AdriCaramelo

Sob o visco de Apiúna

Foi uma mudança muito drástrica. O calor intenso que eu amava virou inferno, e quando eu achei que o frio pudesse se tornar o céu eu conheci Apiúna. Eu ainda não sei que árvore era aquela, se era um visco por estar perto do Natal, ou se era uma árvore maior com flores amarelas que enxeram meus cabelos de folhas secas, mas quando eu acordei eu sacodi a minha cabeça para afástá-las e de repente eu estava feliz. Não é exatamente o céu, mas é bem melhor do que estar sozinha.

Eu não sou mais igual


Já faz quase dois anos e pouca coisa dentro de mim mudou. Não acho que eu seja a mesma pessoa do Natal de 2009, mas certamente o Natal de 2010 me fez sentir estável. Não sei se é bom ou ruim, mas eu gosto de passar o Natal em casa.
O sonho do visco de Apiúna continua lá, intacto.
Por hora continuo a torrar no calor e muitas vezes não consigo me alimentar. E o frio é só o frio.
Sinto saudades do meu frio quente, da minha cidade úmida e dos meus olhos secos. Dói de verdade.
Mas nada para. E eu, não como antes, não paro. Corro o dia todo em busca do nada, que é bem melhor que qualquer coisa ruim. A vida corre pra lá e pra cá... Mais pra cá eu suponho. E eu olho para os meus ossos que não são os mesmos, para os meus cabelos que eu enrolo como sempre com as duas mãos e assim me mantenho ocupada. E as coisas que eu tenho a dizer, essas sim, continuam como antes: subjetivas.
A vida é mesmo uma correria, você quase não se lembra mais como aconteceu. Você acorda cedo, lava os olhos com preguiça, escova os dentes, se despe, se veste, abre a porta de casa e se lembra que esqueceu da chave do carro ou do crachá e volta pra buscar, chama o elevador e enquanto ele não chega você tem dois minutos para se olhar pelo espelho do corredor do prédio e ajeitar o cabelo e a gola da camisa (eu trabalho de camisa). No elevador você segura a chave certa, confere se pegou o cartão, pensa em não esquecer de passar no banco e antes que você perceba já está no serviço. E quanto mais velho você fica mais curto o dia parece. E de repente você percebe que não terminou a faculdade e nem o curso de inglês porque o único tempo que lhe restava você decidiu fazer um curso para melhorar o salário. E ainda bem, porque a gasolina aumentou, o aluguel aumentou, a energia aumentou (não a sua – a da sua casa), a inflação aumentou. Não sei o que acontece depois, me parece que você se casa, tem filhos e envelhece logo. Mas ainda não cheguei aí. Eu acreditava e realmente espero que em um certo momento da vida você para. As coisas vão se encaixando lentamente até tudo voltar ao seu lugar.
As vezes, só por um segundo, eu penso que isso é uma escolha pessoal. Mas quero continuar na correria. Quando o mundo parou pra eu descer parecia que tinha um gigante esmagando meu coração.
Pareço uma velha, eu sei.
Envelheci muito mesmo nos últimos anos.
Ainda pego o violão de vez em quando, abro meus e-mails vinte vezes menos que antes e voltei a cantar no chuveiro. Para o meu pai isso é uma alegria só.
Escrevo músicas quase sempre e quase sempre são iguais para mim. E isso até pode significar que alguma coisa em mim permaneceu. Mas não, eu não sou mais igual.