AdriCaramelo

Sob o visco de Apiúna

Foi uma mudança muito drástrica. O calor intenso que eu amava virou inferno, e quando eu achei que o frio pudesse se tornar o céu eu conheci Apiúna. Eu ainda não sei que árvore era aquela, se era um visco por estar perto do Natal, ou se era uma árvore maior com flores amarelas que enxeram meus cabelos de folhas secas, mas quando eu acordei eu sacodi a minha cabeça para afástá-las e de repente eu estava feliz. Não é exatamente o céu, mas é bem melhor do que estar sozinha.

Amizade Sincera


Falando em Anjo da Guarda, ele anda bem longe de mim. Culpa minha que não soube obedecê-lo, diria Angelo.
O meu sono agora tem vindo sem avisar. Na verdade, muitas vezes nem o vejo. A minha mente passa por tantos lugares que eu imaginava não ser capaz, e a dor vai diminuindo ou aumentando conforme o tempo que eu passei sem voltar. Existe aquele morro difícil de subir quando se é criança e provavelmente algumas crianças, diferentemente do resto do mundo, estão nesse exato momento olhando o céu pouco estrelado e sentindo em pleno a beleza do mundo. Alguém, como a Talita, pode dizer que sabe do que eu digo. São um monte de pontinhos luminosos no céu pouco estrelado, pontinhos de sonhos e esperanças. Naquela noite nós nos deitamos sobre o morrão de descer de roller e o chão estava quente. A cor do meu uniforme já não era mais decifrável, mas a verdade é que não há nenhuma importância nisso, quando estamos de olhos e corações bem abertos e as bocas fechadas, pensando como será daqui treze anos. E se existem as dúvidas, é melhor não respondê-las. Ninguém me contou o que aconteceria, mas eu agradeço, afinal nada é pra sempre.

Chaveirinho - Amizade Sincera


Quase nunca falo do presente.

Acho que nunca escrevi uma Amizade Sincera em tão pouco tempo. Na verdade é tão cedo que eu nem sei o motivo de ter virado uma amizade verdadeira. Eu andava sozinha e não queria Amizades Sinceras por aqui. Tu não pisca os olhos devagar, não come joaninhas vivas, não é hipocondríaca, não tem um grilo de estimação. Aliás, tu nem gosta de café. Tu vive prendendo o dedo nas portas de madeira, tem as mãos mais geladas e acha graça quando eu fico presa no elevador. Eu espero não estar sendo precipitada.
Aquele dia de maio tinha tudo pra ser um dia péssimo. Não importa muito o dia, o Barigui é sempre ruim, e eu, é claro, surpreendo-me com o sol durante esses raros dias. Eu teria que guiar as novatas até uma experiência que, eu sabia, seria desagradável. Eu só achei que a tua era pior, por isso fui te ajudar. Quando eu te encontrei eu achei parecida com uma outra leonina, manhosa e que pisca os olhos devagar, mas se fosse ela, certamente no teu lugar ela estaria sentada na calçada chorando. Ao invés disso tu estava atrapalhada com teu espelho novo. Eu te perguntei se tu era de julho ou de agosto. Depois a gente foi almoçar naquele restaurante que tu não te lembra.
Não sei se foi aí, ou se foi depois de uma semana de mais de mil mensagens, se foi na sexta-feira que fiquei sem um abraço ou se foi só depois de tu colar o espelho com chicletes. O que eu sei é que nossa amizade começou grande e eu preciso dizer que te amo. Que eu sinto a tua falta quando acaba a bateria e que eu vou trabalhar todos os dias feliz porque sei que não estarei sozinha. Eu sei também que é perigoso escrever tudo isso andando, mas é que eu já estou quase chegando na tua rota pra te ajudar.