AdriCaramelo

Sob o visco de Apiúna

Foi uma mudança muito drástrica. O calor intenso que eu amava virou inferno, e quando eu achei que o frio pudesse se tornar o céu eu conheci Apiúna. Eu ainda não sei que árvore era aquela, se era um visco por estar perto do Natal, ou se era uma árvore maior com flores amarelas que enxeram meus cabelos de folhas secas, mas quando eu acordei eu sacodi a minha cabeça para afástá-las e de repente eu estava feliz. Não é exatamente o céu, mas é bem melhor do que estar sozinha.

Auxílio


Deveria ser a véspera da felicidade com direto a comida e licor. Mas o gosto é amargo. Parece um pouco aquele dia que eu estava saindo da salinha quando me lembrei que esquecia meu espelho e ao voltar escutei os dois falando muito mal de mim. Falando sobre como eu sou injusta e folgada. Naquele dia eu havia chegado às 7h. Enviei as rotas antes e em seguida telefonei pro Adilson para implorar que deixasse ela folgar na terça. Não é um ato de piedade, nem de amizade. Eu só me lembrei das vezes que eu estive de passagem comprada e não pude viajar. É claro que não haveria como ela saber que eu fiz tudo o que pude por ela. Mesmo assim me doeu ouvir tudo aquilo pelas costas. Depois de respirar fundo fiz o que eu gostaria que fizessem comigo, contei a ela o que eu ouvi. Infelizmente as coisas só pioraram.

Hoje, na verdade, começou bem antes. Nem lembro qual foi o dia. Eu estava feliz. Quando eu vi todas aquelas pessoas dispostas a ajudarem umas as outras, unindo-se ao nosso grupo, aceitando nossas diferenças, eu percebi que estava bom assim. Se eu tivesse esse poder eu deixaria como estava naquele dia. Não tirava ninguém. Não voltava ninguém. Eu cansei demais, tive febre. Mesmo assim a felicidade ainda fazia parte do meu dia, como há muito não acontecia. Eu resolvi parabenizá-los, quis ser amiga e fazê-los saber que nem todos o são, mas isso quase nunca vai importar.
Mas eu usei as palavras erradas. Eu fui tola.

O problema não começou aí, eu sei. Eu vejo os olhares e eu sinto os sentimentos. Mas eu juro que não sei o que estou fazendo de errado. E se pelo menos as pessoas fossem sinceras comigo (como foram hoje) eu poderia tentar melhoras. Porque não quero magoar ninguém e eu me esforço muito pra isso, muito além do que meu corpo pode suportar. Eu chego em casa e choro porque mesmo dando tudo de mim alguém está insatisfeito. E é bem capaz que mais uma vez me interpretem errado. Não quero ser supervisora. Não quero ser chefe. Não quero ser líder. Please, talk to me. Solidão é uma palavra muito leve. Eu me sinto fraca e com muito medo.

Boa noite. É véspera de Natal e eu só quero dormir.



Dois dias depois


Agora eu estou com pressa. Mas eu tive tempo demais pra reler meu ano e percebi que quase tudo foi sobre os momentos de angústia. Todos os outros 335 dias em que eu estava realmente feliz eu estava ocupada demais com amor, amizade, comprometimento e empreendedorismo.
O fato é que quando estou triste minha inspiração é natural, talvez a tristeza me deixe ainda mais subjetiva.
O sonho que me parece impossível ainda assim é um sonho. Algo com que eu possa me perder a noite, sem meu pote e com pouco tempo. Mas a partir de ontem, o que fazer com ele (o sonho)? Alguém sabe o que é errado? É querer, sonhar ou perder? Porque talvez eu seja capaz de criar um sonho novo. Sério mesmo.
Talvez com baús, poesias, fumaça. Mas sem um terceiro ou quarto ato. Não seria uma peça.
Todos estão felizes. Obrigada. Veio ver o mar, eu vou ser feliz (é essa).

Haha, que mentira. Eu não seria capaz. Boas noites.