AdriCaramelo

Sob o visco de Apiúna

Foi uma mudança muito drástrica. O calor intenso que eu amava virou inferno, e quando eu achei que o frio pudesse se tornar o céu eu conheci Apiúna. Eu ainda não sei que árvore era aquela, se era um visco por estar perto do Natal, ou se era uma árvore maior com flores amarelas que enxeram meus cabelos de folhas secas, mas quando eu acordei eu sacodi a minha cabeça para afástá-las e de repente eu estava feliz. Não é exatamente o céu, mas é bem melhor do que estar sozinha.

Todos os benefícios


Daqui dois dias nós fazemos aniversário de namoro. Podia ser que me faltassem palavras se eu escrevesse demais hoje, mas não, existem palavras para falar de você suficientes para escrever a saga de Game Of Thrones completa. Eu poderia optar por fazer um anagrama contendo somente palavras com a letra A, mas essa é uma letra tua e minha e do Amor. E hoje eu não vou falar sobre o nosso amor e sim sobre você. Mas pode ser que ao final do texto as duas coisas sejam uma só, como na verdade é.

Primeiro eu gostaria de começar agradecendo a Deus, aos ET.s, às sereias, aos macacos aquáticos, ao Deus Indu e aos teus pais por você existir. Quando você era um bebê e eu ainda não te conhecia esses seres possivelmente sabiam ou pelo menos imaginavam que este dia chegaria. Aí ontem uns minutos depois da meia noite e meia (então, no caso, hoje) você disse que estava triste porque estava ficando velho. Esse é um termo tão abstrato quanto inteligente (a frase ficou ambígua, então preciso esclarecer que o termo “inteligente” é abstrato). Porque eu já fui mais velha. Uns anos atrás, enquanto eu andava triste e sozinha eu envelheci 10 anos ou mais. Até que eu voltei a te encontrar, no Orkut ou no MSN, no cinema ou na tua casa. E aí nós fizemos um jantar à luz de velas e sorrimos até o amanhecer. Foi então que eu me tornei uma criança com todos os benefícios de um adulto. Isso porque você tem medo que a sua orelha rasgue e também porque você dança “Oh Happy Day” na fila do pão. Tem gente que lê jornal, você dança e canta sem perceber que todos estão se esforçando pra não rir sem nem ao menos te conhecer.

E agora sendo uma criança com benefícios de adulto eu posso ficar acordada com você até tarde discutindo sobre a teoria de Darwin e/ou tentando achar substantivos animais masculinos no diminutivo para competir contigo. E talvez uma menina criança não saiba distinguir tantas bandeiras de países diferentes como eu, mas isso é só porque elas não tem o meu benefício adulto de passar tanto tempo com um menino nerd. Isso significa que você acrescentou muito na minha vida intelectual e criativa, mas mesmo assim não deixará de ser um menino. Você é o meu melhor amigo, um amigo eterno daqueles que dizem que não existe. Daqueles que dizem que é melhor não namorar pra não estragar a amizade. Sinto dizer que estão errados.

Você é um sagitariano hipócrita que perde os amigos mas não perde a piada. E segundos depois chora com a propaganda da Coca-Cola e diz que caiu protetor solar nos olhos. Você diz todos os dias que a comida que eu faço é a melhor que você já experimentou e você me mudou. Ou você me trouxe de volta. Você comprou os meus sonhos e me vendeu os seus porque acreditou em mim sobre sonhar junto. Então tudo o que eu espero de mim mesma é te manter com os mesmos melhores defeitos do mundo. E de você, eu espero que tenha reservado as chaves pra gente ir visitar nosso apartamento.

9 luas


Há nove anos fez um dia lindo como o de hoje. Era sábado e fomos dar uma volta, encontramos ameixas que nem eu conseguia alcançar. Quando anoiteceu olhamos para o céu e te apresentei ao Sheid. Rimos e nos encontramos na madrugada do corredor. Você de cabelos compridos e eu de pantufa, o Sa e o Po. Não estávamos sós.
Depois disso houve outras lágrimas e outros sorrisos e outros amigos. Tivemos nossos pais, nossos irmãos. Fotos. Tivemos o primeiro adeus, quando você se mudou para quatro quadras mais longe. Tivemos nossos encontros e tivemos uma amiga sempre presente pra contar tudo. Tivemos nossos segredos. Tivemos o Ledo, o x com barata, a cerveja quente de canudinho. Tivemos brigas e pedido de desculpas nas pedras. Tivemos as cartas. Tivemos meus trabalhos de faculdade. Tivemos dias difíceis. Tivemos vinho. Tivemos a Pitty e tivemos a Penélope. Tivemos um adeus definitivo. Tivemos Criciúma e tivemos Curitiba. Tivemos reencontros. E hoje temos um pouco mais do que sempre sonhamos.
Eu nem me lembro quando te disse a primeira vez que te amo. Mas sei que naquele 4 de dezembro de 2004 eu ganhei um presente sem precedentes. E agora você quer conversar, mas eu estou ocupada escrevendo de novo sobre a nossa amizade, alguns anos depois da última vez. E você sabe, eu crio expectativas fora do comum e ainda assim a realidade me surpreende. Obrigada por ser essa pessoa que de tanto pensar acaba tomando a decisão errada. Obrigada por dizer que me ama antes de desligar o telefone. Obrigada por nunca levar adiante as suas decisões. Obrigada por ser tão carinhosa e gentil. Obrigada por me deixar esperando 101% das vezes. Obrigada por ser uma pessoa de verdade.
ASAPS.

Quem é você, Alasca?


Já passou muito da meia noite. Isso significa que eu não sou capaz de cumprir as promessas que faço pra mim mesma. Meu Deus, como está quente. Eu era do tipo que fazia apostas no escuro, até encontrar uma árvore para descansar. Hoje é um dia a mais, quando acontece algo os dias são sempre para diminuir o impacto ou para crescer algo dentro de nós. Os dias vazios são os que eu consigo dormir melhor e há dias que isso não acontece.
Hoje eu não vou dormir, não vou responder e não vou parar de pensar. Isso não significa que eu queira algo a mais. Eu quero apenas isso, essa felicidade que me invadiu e nem foi convidada. Esse meu presente de Natal. Talvez amanhã eu faça faxina na casa nova, esperando que o pensamento se distancie, ou que eu me distancie da realidade. Sozinha.
Não gosto de beber. Muito menos de cigarros, apesar de que ela fumava já antes de se casar. Mas tem alguma coisa, alguma energia estática que de longe é casual, mas de perto me dá medo. Não tenho medo da ferida, essa é a melhor parte, a dor no ventre e o coração apertado (ou o contrário). Então o medo é de precisar parar de sonhar, eu acho.
Tenho mil e uma coisas pra dizer, mas ainda é tão cedo. Ou tão tarde. E eu não sou de insistir em possibilidades improváveis. Mas é impossível não se encantar incomodar com a arte. Impossível. Não sou a única. Eu sou uma artista. Triste, instável e psicótica. Sorrindo da situação.


Amizade Sincera


Faz tempo eu acho, uma vez ela me ligou pra almoçar. Estávamos coincidentemente trabalhando aqui perto de casa. Mas eu não fui. Eu não lembro o porquê, pode até ser que a minha rota fosse péssima. Possivelmente eu estava com pressa. Provavelmente eu não quis ir.
Ouvir, falar, socializar. Eu não vim pra isso. Desde que cheguei nessa cidade fria tudo o que eu encontrei foi diferente de amizade.
Entre esse dia e o Amigo Secreto tudo o que eu lembro é de ela ter me contado que achava que estava grávida. Eu não sei como isso chegou até mim. Eu não sei por que isso me tocou. Nas férias eu cheguei a sentir a falta dela. Mas tudo não passava de uma vida longe da minha.
No dia da revelação eu tive vontade de dizer (e disse) que eu não poderia ter tido tanta sorte. Eu fiz uma mantinha, costurei umas fraldinhas. Só faltava saber se era menino ou menina. Ela chorou.
Saímos algumas vezes sem querer, nos encontramos por acaso, falamos sobre o nome, sobre roupinhas e: Não Adri, eu senti agora que não será uma menina. É um menino!
Fomos pra praia, pro trabalho, pro bar, pra casa, pra festa, pro médico e finalmente pro hospital. Nove meses de uma amizade clandestina que não era nada. O menino, o meu primeiro cliente aqui. Tão sorridente. Tão lindo. Com certeza minha carreira de fotógrafa se deslanchará se o virem.
Ela disse: Eu não quero mais trabalhar aqui.
Eu disse: Eu não quero mais trabalhar aqui.
E ao partirmos deveríamos partir. Mas ela ficou em mim. E não foi uma amizade repentina. Eu não percebi. Não vi você chegar e não deixei você partir.
Mas ela já sente ciúmes e eu já sinto saudades.

Aos QUATRO ventos


Eu não acredito que vim aqui de novo falar sobre isso. O que está acontecendo comigo? Não tenho mais nada do que me lamentar? Cadê a minha subjetividade escondida na minha tristeza? Nem sei quanto tempo faz da noite do saci, da noite do violão e do skate ou da noite do The Walking Dead (ou das outras noites que dormimos a três na minha cama). Ano que vem eu caso com 4 pessoas. São as 4 pessoas que eu escolhi para casar. As minhas 4 pessoas preferidas no mundo. Fora a minha família.
É que a minha família, bom, quando eu nasci eu já a possuía. E quando eu passei a possuir também as 4 pessoas? A primeira eu lembro bem. Dia 4 de dezembro de 2004. Eu não sei se era dia ou noite lá fora. Era madrugada. E agora parando pra pensar, o 4 é um número bom pra mim. Não importa aonde você vá nem o que você faça, algumas coisas você nunca esquece.
Nossa, como minhas palavras eram belas e profundas enquanto eu sofria. Ai, desculpa, fui ler textos antigos e perdi o fio da meada. Já não dá mais pra ler os textos como se conhecesse os personagens. Meus 3, 4 ou 9 já são específicos demais, tudo por causa do meu amor e felicidade.

No ano que vem (2014) tudo será diferente, mas pela primeira vez eu me sinto segura, não estou no meio de um furacão que irá me jogar pra longe se eu me mover. Agora eu estou dentro de um rio, quando eu me movo a água se move. Eu não sei exatamente o que essa segurança causa em mim, mas às vezes eu fico parada sentindo. Finalmente eu estou descansada e livre. E já fazem o que, quase 4 anos?

Eu vou morrer, mas te amo.


Talvez eu não devesse estar escrevendo agora, foi por este motivo que pensei que eu devesse comprar um teclado mais silencioso. Eu não entendo ainda muito bem esses momentos nos quais eu tenho uma vontade incontrolável de escrever, incontrolável sim, porque minha vista já está turva de tanto sono. Mas eu acho que tem algo ver com minhas crises de carência. Talvez. Ou cada post me trouxe aqui por um motivo diferente. Pensar nos motivos me deu saudade do baú onde eu guardava as lembranças. Mas não eram nelas que eu estava pensando antes. Pensava no significado da morte e algo em mim acreditou que fosse o passado, porque é a única coisa que eu tenho certeza que já morreu. Até parece trágico, mas na verdade é muito bonito porque significa que tudo o que eu sei que irá acontecer não será a morte e ainda existem milhares de coisas pra acontecer e eu não sei.
Não costumo citar nomes, mas tenho pensado que minha vida perfeita seria como está sendo agora, só adicionaria alguns dias inteiros da semana com a Pri, algumas horas por dia com a Carol e algumas noites do mês com a Sary. Porque, nossa, como elas me fazem falta. Eu tenho esse problema, digo umas coisas aleatórias assim do nada, isso faz com que as pessoas percam a empolgação, mas quando eu percebo já falei. Tem também o negócio de piscar muito devagar e enfim a subjetividade, mas algumas pessoas transformam meus defeitos em qualidades. As pessoas por quem mais tenho apreço o são devido aos seus defeitos.
É claro que este espaço não é privado, mas pensei agora que provavelmente todas as pessoas que já estiveram aqui é porque de alguma forma subjetiva estiveram em meus textos e consequentemente em minhas histórias de amor. Só que agora eu já citei 3 e acabei com todo o mistério de quais, especificamente, são as fadas e os faunos do meu labirinto. Só falta eu descobrir se são 3 ou 9. E ninguém há de saber.
Se eu não puder trazer todos pra bem perto de mim, algum dia eu vou morrer. O que virá depois disso eu não sei.

Nada



Nesta noite eu fiz de tudo pra sonhar, mas não consegui. Noite passada eu conheci alguém. Não que eu tenha conhecido uma guria que eu já conhecia, mas me lembrou da música “Piano Bar” da Engenheiros do Hawaii. Era alguém que eu realmente não conhecia, exceto por uma noite que passou no meu sonho. Era alguém legal sim, mas diferente. Porque se eu dissesse que já conheci alguém assim eu estaria mentindo, mas em muito me lembrava das pessoas que gosto. Era um pedacinho de cada um se transformando numa outra pessoa que, pasmem, não existia. Como assim, não existia? Às vezes eu sonho com coisas que são reais e difíceis de acreditar. Não era um fantasma. Na verdade eu não tive muito tempo pra pensar sobre isso, porque eu falei pra Pri e ela brigou comigo, então a ênfase pra mim não é eu conhecer uma pessoa incrível que na verdade não existe, mas sim, eu não decepcionar ninguém.
Na verdade eu sei de pouca coisa, ou nada. Passei esses anos tentando aprender algo e a verdade é que nada é real. São alguns sonhos, alguns bons momentos. Ou todos os sonhos e bons momentos, dependendo de como você acorda. Hoje eu acordei elétrica, cheia de perguntas e de felicidade. Mas talvez isso não seja nada.
“Na verdade, ‘nada’ é uma palavra esperando tradução.”
(morrendo de vontade de postar a música inteira, que por um segundo fez sentido).

Velocidade



Há muitas coisas a dizer, por mais que eu pense, que eu sinta, que eu fale...

A minha memória é realmente fotográfica. Não como um filme, não há seqüência lógica. A verdade é que eu quase nunca me lembro do que aconteceu primeiro. Há um bronzeado, um cachinho, uma blusa nova, algumas palavras (não muitas)... E com certeza há um pijama. Parecido com a blusa que eu to vestindo agora. As imagens são muito nítidas, como as minhas fotografias, mas certamente algumas coisas eu imaginei. A falta de sono às vezes é positiva pra mim, principalmente quando encontro um pote.
Normalmente eu escrevo sobre coisas passadas, por isso não lembro a ordem e não tenho certeza do que foi real. Principalmente porque eu sonho muito. Muito mesmo. Com certeza, a madrugada foi feita pra pensar.
Enquanto eu estava no banheiro eu pensei sobre minhas madrinhas de casamento, não é exatamente um convite, mas as minhas Amizades Sinceras eu posso contar nos dedos de uma única mão.
Se em maio eu pensava em desistir, algumas coisas mudaram e agora eu penso em outras coisas antes disso, como me esforçar muito pra não ficar ruim nunca mais.

Eu voltei a escutar músicas, não que elas não me causem certo desespero. O passado está quase sempre presente, mas o presente agora quase sempre me faz lembrar coisas que estão guardadas naquelas imagens nítidas. Eu até acreditei quando eu disse que não sou mais igual. Eram todas aquelas coisas que eu não podia lembrar, principalmente porque pareciam distantes demais, como se fossem de outra vida ou só um sonho que não aconteceu. As ruins e as boas. Por um momento percebi que são músicas demais. Bandas demais. Será que dá pra ouvir todas, processar e até tomar gosto ou criar uma relação de carinho com a letra? Agora é “E porque não?”, mas vai ficar só comigo. Por hoje. Hehe, agora ele disse “A fudê”, uma expressão gaúcha que acabou virando “afudi” por aqui. O que eu tava falando mesmo? Ah é, as músicas... De repente eu sinto algo na garganta e então meus olhos se enchem. Eu não era assim, chorava menos. Mas cada vez a dor vai ficando mais distante e o choro é de felicidade. Foi assim no filme da Emma, aquelas músicas e aqueles sentimentos, quase diziam sobre mim. Hoje em dia aquelas fitas a gente só vê em capas de Iphone.

Eu sinto também saudade de algumas coisas que não vivi, mas eu realmente amei tudo o que eu vivi. Até os ossos. Quando eu percebi que eu estava nas últimas páginas do livro, no último ato, eu abracei os joelhos e não quis mais largar. Eu segurei com tanta força que meus músculos atrofiaram e, segundo o doutor, eu tenho até tendinite na patela. Eu acho que não me distraí. Minha meta era enlouquecer ali, sem minha rádio. Num segundo alguém puxou minhas mãos e eu estava despreparada. Tive que correr junto, porque ela não largava. Fiquei brava. Alguém me tirou do meu buraco sem minha autorização. E é lógico, porque eu não autorizaria. Só paramos de correr um dia desses e, de repente, não tínhamos nada a dizer. O sono não vinha, nem com o álcool. Algo diferente correndo em minhas veias. Mas achei uma maneira diferente de dormir sem o meu pote. Depois de tudo eu tentei dizer, mas as palavras são sempre insuficientes. E eu, que adoro coincidências, escutei a música que poderia traduzir de forma especial. Falando em coincidências, está tocando agora “Dia Perfeito”. Especial ou perfeito, não diz nada, assim como as minhas palavras subjetivas. Mas talvez eu possa ser mais direta, talvez eu me permita isso um dia. Talvez, se não acabar a bateria, ou se a internet não estiver lenta demais. Hoje não.

Boa noite, fica com Deus. Até amanhã.