Faz tempo eu acho, uma vez ela me ligou pra almoçar. Estávamos
coincidentemente trabalhando aqui perto de casa. Mas eu não fui. Eu não
lembro o porquê, pode até ser que a minha rota fosse péssima.
Possivelmente eu estava com pressa. Provavelmente eu não quis ir.
Ouvir,
falar, socializar. Eu não vim pra isso. Desde que cheguei nessa cidade
fria tudo o que eu encontrei foi diferente de amizade.
Entre esse
dia e o Amigo Secreto tudo o que eu lembro é de ela ter me contado que
achava que estava grávida. Eu não sei como isso chegou até mim. Eu não
sei por que isso me tocou. Nas férias eu cheguei a sentir a falta dela.
Mas tudo não passava de uma vida longe da minha.
No dia da
revelação eu tive vontade de dizer (e disse) que eu não poderia ter tido
tanta sorte. Eu fiz uma mantinha, costurei umas fraldinhas. Só faltava
saber se era menino ou menina. Ela chorou.
Saímos algumas vezes
sem querer, nos encontramos por acaso, falamos sobre o nome, sobre
roupinhas e: Não Adri, eu senti agora que não será uma menina. É um
menino!
Fomos pra praia, pro trabalho, pro bar, pra casa, pra
festa, pro médico e finalmente pro hospital. Nove meses de uma amizade
clandestina que não era nada. O menino, o meu primeiro cliente aqui. Tão
sorridente. Tão lindo. Com certeza minha carreira de fotógrafa se
deslanchará se o virem.
Ela disse: Eu não quero mais trabalhar aqui.
Eu disse: Eu não quero mais trabalhar aqui.
E
ao partirmos deveríamos partir. Mas ela ficou em mim. E não foi uma
amizade repentina. Eu não percebi. Não vi você chegar e não deixei você
partir.
Mas ela já sente ciúmes e eu já sinto saudades.
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