AdriCaramelo

Sob o visco de Apiúna

Foi uma mudança muito drástrica. O calor intenso que eu amava virou inferno, e quando eu achei que o frio pudesse se tornar o céu eu conheci Apiúna. Eu ainda não sei que árvore era aquela, se era um visco por estar perto do Natal, ou se era uma árvore maior com flores amarelas que enxeram meus cabelos de folhas secas, mas quando eu acordei eu sacodi a minha cabeça para afástá-las e de repente eu estava feliz. Não é exatamente o céu, mas é bem melhor do que estar sozinha.

Velocidade



Há muitas coisas a dizer, por mais que eu pense, que eu sinta, que eu fale...

A minha memória é realmente fotográfica. Não como um filme, não há seqüência lógica. A verdade é que eu quase nunca me lembro do que aconteceu primeiro. Há um bronzeado, um cachinho, uma blusa nova, algumas palavras (não muitas)... E com certeza há um pijama. Parecido com a blusa que eu to vestindo agora. As imagens são muito nítidas, como as minhas fotografias, mas certamente algumas coisas eu imaginei. A falta de sono às vezes é positiva pra mim, principalmente quando encontro um pote.
Normalmente eu escrevo sobre coisas passadas, por isso não lembro a ordem e não tenho certeza do que foi real. Principalmente porque eu sonho muito. Muito mesmo. Com certeza, a madrugada foi feita pra pensar.
Enquanto eu estava no banheiro eu pensei sobre minhas madrinhas de casamento, não é exatamente um convite, mas as minhas Amizades Sinceras eu posso contar nos dedos de uma única mão.
Se em maio eu pensava em desistir, algumas coisas mudaram e agora eu penso em outras coisas antes disso, como me esforçar muito pra não ficar ruim nunca mais.

Eu voltei a escutar músicas, não que elas não me causem certo desespero. O passado está quase sempre presente, mas o presente agora quase sempre me faz lembrar coisas que estão guardadas naquelas imagens nítidas. Eu até acreditei quando eu disse que não sou mais igual. Eram todas aquelas coisas que eu não podia lembrar, principalmente porque pareciam distantes demais, como se fossem de outra vida ou só um sonho que não aconteceu. As ruins e as boas. Por um momento percebi que são músicas demais. Bandas demais. Será que dá pra ouvir todas, processar e até tomar gosto ou criar uma relação de carinho com a letra? Agora é “E porque não?”, mas vai ficar só comigo. Por hoje. Hehe, agora ele disse “A fudê”, uma expressão gaúcha que acabou virando “afudi” por aqui. O que eu tava falando mesmo? Ah é, as músicas... De repente eu sinto algo na garganta e então meus olhos se enchem. Eu não era assim, chorava menos. Mas cada vez a dor vai ficando mais distante e o choro é de felicidade. Foi assim no filme da Emma, aquelas músicas e aqueles sentimentos, quase diziam sobre mim. Hoje em dia aquelas fitas a gente só vê em capas de Iphone.

Eu sinto também saudade de algumas coisas que não vivi, mas eu realmente amei tudo o que eu vivi. Até os ossos. Quando eu percebi que eu estava nas últimas páginas do livro, no último ato, eu abracei os joelhos e não quis mais largar. Eu segurei com tanta força que meus músculos atrofiaram e, segundo o doutor, eu tenho até tendinite na patela. Eu acho que não me distraí. Minha meta era enlouquecer ali, sem minha rádio. Num segundo alguém puxou minhas mãos e eu estava despreparada. Tive que correr junto, porque ela não largava. Fiquei brava. Alguém me tirou do meu buraco sem minha autorização. E é lógico, porque eu não autorizaria. Só paramos de correr um dia desses e, de repente, não tínhamos nada a dizer. O sono não vinha, nem com o álcool. Algo diferente correndo em minhas veias. Mas achei uma maneira diferente de dormir sem o meu pote. Depois de tudo eu tentei dizer, mas as palavras são sempre insuficientes. E eu, que adoro coincidências, escutei a música que poderia traduzir de forma especial. Falando em coincidências, está tocando agora “Dia Perfeito”. Especial ou perfeito, não diz nada, assim como as minhas palavras subjetivas. Mas talvez eu possa ser mais direta, talvez eu me permita isso um dia. Talvez, se não acabar a bateria, ou se a internet não estiver lenta demais. Hoje não.

Boa noite, fica com Deus. Até amanhã.

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