Quase nunca falo do presente.
Acho que nunca escrevi uma Amizade Sincera em tão pouco tempo. Na verdade é tão cedo que eu nem sei o motivo de ter virado uma amizade verdadeira. Eu andava sozinha e não queria Amizades Sinceras por aqui. Tu não pisca os olhos devagar, não come joaninhas vivas, não é hipocondríaca, não tem um grilo de estimação. Aliás, tu nem gosta de café. Tu vive prendendo o dedo nas portas de madeira, tem as mãos mais geladas e acha graça quando eu fico presa no elevador. Eu espero não estar sendo precipitada.
Aquele dia de maio tinha tudo pra ser um dia péssimo. Não importa muito o dia, o Barigui é sempre ruim, e eu, é claro, surpreendo-me com o sol durante esses raros dias. Eu teria que guiar as novatas até uma experiência que, eu sabia, seria desagradável. Eu só achei que a tua era pior, por isso fui te ajudar. Quando eu te encontrei eu achei parecida com uma outra leonina, manhosa e que pisca os olhos devagar, mas se fosse ela, certamente no teu lugar ela estaria sentada na calçada chorando. Ao invés disso tu estava atrapalhada com teu espelho novo. Eu te perguntei se tu era de julho ou de agosto. Depois a gente foi almoçar naquele restaurante que tu não te lembra.
Não sei se foi aí, ou se foi depois de uma semana de mais de mil mensagens, se foi na sexta-feira que fiquei sem um abraço ou se foi só depois de tu colar o espelho com chicletes. O que eu sei é que nossa amizade começou grande e eu preciso dizer que te amo. Que eu sinto a tua falta quando acaba a bateria e que eu vou trabalhar todos os dias feliz porque sei que não estarei sozinha. Eu sei também que é perigoso escrever tudo isso andando, mas é que eu já estou quase chegando na tua rota pra te ajudar.