AdriCaramelo

Sob o visco de Apiúna

Foi uma mudança muito drástrica. O calor intenso que eu amava virou inferno, e quando eu achei que o frio pudesse se tornar o céu eu conheci Apiúna. Eu ainda não sei que árvore era aquela, se era um visco por estar perto do Natal, ou se era uma árvore maior com flores amarelas que enxeram meus cabelos de folhas secas, mas quando eu acordei eu sacodi a minha cabeça para afástá-las e de repente eu estava feliz. Não é exatamente o céu, mas é bem melhor do que estar sozinha.

Quem é você, Alasca?


Já passou muito da meia noite. Isso significa que eu não sou capaz de cumprir as promessas que faço pra mim mesma. Meu Deus, como está quente. Eu era do tipo que fazia apostas no escuro, até encontrar uma árvore para descansar. Hoje é um dia a mais, quando acontece algo os dias são sempre para diminuir o impacto ou para crescer algo dentro de nós. Os dias vazios são os que eu consigo dormir melhor e há dias que isso não acontece.
Hoje eu não vou dormir, não vou responder e não vou parar de pensar. Isso não significa que eu queira algo a mais. Eu quero apenas isso, essa felicidade que me invadiu e nem foi convidada. Esse meu presente de Natal. Talvez amanhã eu faça faxina na casa nova, esperando que o pensamento se distancie, ou que eu me distancie da realidade. Sozinha.
Não gosto de beber. Muito menos de cigarros, apesar de que ela fumava já antes de se casar. Mas tem alguma coisa, alguma energia estática que de longe é casual, mas de perto me dá medo. Não tenho medo da ferida, essa é a melhor parte, a dor no ventre e o coração apertado (ou o contrário). Então o medo é de precisar parar de sonhar, eu acho.
Tenho mil e uma coisas pra dizer, mas ainda é tão cedo. Ou tão tarde. E eu não sou de insistir em possibilidades improváveis. Mas é impossível não se encantar incomodar com a arte. Impossível. Não sou a única. Eu sou uma artista. Triste, instável e psicótica. Sorrindo da situação.


Amizade Sincera


Faz tempo eu acho, uma vez ela me ligou pra almoçar. Estávamos coincidentemente trabalhando aqui perto de casa. Mas eu não fui. Eu não lembro o porquê, pode até ser que a minha rota fosse péssima. Possivelmente eu estava com pressa. Provavelmente eu não quis ir.
Ouvir, falar, socializar. Eu não vim pra isso. Desde que cheguei nessa cidade fria tudo o que eu encontrei foi diferente de amizade.
Entre esse dia e o Amigo Secreto tudo o que eu lembro é de ela ter me contado que achava que estava grávida. Eu não sei como isso chegou até mim. Eu não sei por que isso me tocou. Nas férias eu cheguei a sentir a falta dela. Mas tudo não passava de uma vida longe da minha.
No dia da revelação eu tive vontade de dizer (e disse) que eu não poderia ter tido tanta sorte. Eu fiz uma mantinha, costurei umas fraldinhas. Só faltava saber se era menino ou menina. Ela chorou.
Saímos algumas vezes sem querer, nos encontramos por acaso, falamos sobre o nome, sobre roupinhas e: Não Adri, eu senti agora que não será uma menina. É um menino!
Fomos pra praia, pro trabalho, pro bar, pra casa, pra festa, pro médico e finalmente pro hospital. Nove meses de uma amizade clandestina que não era nada. O menino, o meu primeiro cliente aqui. Tão sorridente. Tão lindo. Com certeza minha carreira de fotógrafa se deslanchará se o virem.
Ela disse: Eu não quero mais trabalhar aqui.
Eu disse: Eu não quero mais trabalhar aqui.
E ao partirmos deveríamos partir. Mas ela ficou em mim. E não foi uma amizade repentina. Eu não percebi. Não vi você chegar e não deixei você partir.
Mas ela já sente ciúmes e eu já sinto saudades.