AdriCaramelo

Sob o visco de Apiúna

Foi uma mudança muito drástrica. O calor intenso que eu amava virou inferno, e quando eu achei que o frio pudesse se tornar o céu eu conheci Apiúna. Eu ainda não sei que árvore era aquela, se era um visco por estar perto do Natal, ou se era uma árvore maior com flores amarelas que enxeram meus cabelos de folhas secas, mas quando eu acordei eu sacodi a minha cabeça para afástá-las e de repente eu estava feliz. Não é exatamente o céu, mas é bem melhor do que estar sozinha.

A origem


À minha memória paralela.
Eu já tinha aquela chata mania de guardar papéis, mas junto com ela havia aquele aparelhinho que eu achava tão capaz quanto a minha memória. Nele eu guardei as coisas que eu não queria ou não podia esquecer, como as Amizades Sinceras, mas de repente eu percebi que só as minhas memórias é que não são voláteis.
Eram apenas algumas músicas sem melodia. Onde foram parar meus papéis? Será que tudo isso faz parte de algo que eu apenas imaginei? Eu não estava dormindo, senti em pleno todo aquele cheiro, aquele gosto. Posso até me lembrar de como é tocar na mão de alguém e sentir queimar. Se fosse um filme eu diria que é aquele que quando algo traz alguma memória a tona toda a minha vida volta àquele lugar. Se fosse uma música, não seria uma só, seria um concerto desconsertado. Se fosse um livro, rs, seria aquele em que a garota sempre achou que fosse morrer.
Mas as vezes o meu celular tocava mais de 30 vezes e eu não acordava, e quando eu acordava alguém estava bêbado. É claro que era um sonho. Nada aconteceu realmente em minha vida, era tudo apenas uma subjetividade que eu acreditava entender. Poderia ser um mundo paralelo ou apenas um sonho que se sonha só. Porque não entendo agora?
Essas perguntas já não estão na minha cabeça. Talvez por causa do Topiramato, que me dava perda de memória recente, apesar de que estas memórias eram de outra vida. Lembro de alguém ter dito que isso era injusto, lembro de alguém ter vindo ao meu encontro de braços abertos e lembro das vozes que recitavam. Mas se realmente aconteceu, onde estão meus papéis? Em que ato estou neste momento? Qual é a minha fala?
Eu joguei fora o baú, mas ainda tem alguma coisa que não faz sentido. 
Por um bom momento eu quero apenas a liberdade. Eu poderia viver tudo outra vez. Mas e depois, será que ela teria o mesmo gosto? Eu não tenho essa escolha. Tudo acontece contra a minha vontade. Será que o gosto que eu senti é real? Certamente a realidade, não tendo o gosto, foi ainda mais intensa que tudo o que sonhei. O mais intenso de tudo o que eu senti.
Agora até as minhas roupas estão manchadas de vermelho de tanta honestidade. Eu também queria saber o que queres ouvir, e a cada palavra que agradar teus ouvidos eu abriria mão de um segredo. É incrível chegar a este ponto. Todas aquelas estrelas que seguimos.
Eu não gosto de toda essa minha fluidez, mas não há razão, vergonha ou família a quem eu possa culpar. Só não me deixe desaparecer. Eu tenho uma recomendação. Se o dia for mesmo difícil e a noite te persistir acordado, abra o pote que está embaixo da tua cama e, além de guardar nele todas as lembranças de hoje, pegue de volta todas as lembranças que há muito tu escondeste dentro dele. 

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