AdriCaramelo

Sob o visco de Apiúna

Foi uma mudança muito drástrica. O calor intenso que eu amava virou inferno, e quando eu achei que o frio pudesse se tornar o céu eu conheci Apiúna. Eu ainda não sei que árvore era aquela, se era um visco por estar perto do Natal, ou se era uma árvore maior com flores amarelas que enxeram meus cabelos de folhas secas, mas quando eu acordei eu sacodi a minha cabeça para afástá-las e de repente eu estava feliz. Não é exatamente o céu, mas é bem melhor do que estar sozinha.

Com o que eu posso lidar


Percebi que esse ano eu tenho feito muito mais postagens do que de costume, mas elas também são mais vagas do que de costume. No começo eu tinha um problema grande pra enfrentar, mas agora, ainda doente e sentindo a falta do sol eu quase já consigo me sentir em casa. Na verdade se eu voltasse pra casa eu estaria mesmo perdida. Engraçado como normalmente as pessoas se sentem perdidas e de repente se encontram, com amigos, em um lugar... Eu que sempre tive a minha moradia me sinto cada vez mais perdida. Mas os problemas se foram. Eu acho que eu me preparei a vida inteira pra isso, eu posso lidar. Posso lidar com o vazio e o escuro, mas também com a amizade repentina que aparece em um olhar sorrindo ou no amor que eu não sei de onde vem. Amor sem motivos. Eu posso lidar com isso à distância, já escrevi sobre isso uma vez. Eu posso sentir tudo isso e escrever coisas que parecem sem sentido, desde que seja de longe. Porque de perto esse frio me dá medo. Esse frio quente. E é por isso que eu não tenho bebido. É por isso que eu fico um pouco quieta. Porque enquanto ninguém me entender eu posso continuar falando coisas sem sentido, posso falar na voz de outra pessoa, posso até fingir que não entendo, ou pior, fingir que eu entendi que foi uma indireta que me deixou voando por colinas em um dia de sol. Mas se alguém entender, seja lá quem for, acaba tudo. Acaba meu potencial em achar que tudo permanecerá igual, afinal. Consequentemente meus sonhos acordada escorrerão por meus dedos.
Monomania. Não vim falar sobre isso. As vezes meu cérebro me aborrece por não filtrar as palavras.  Eu vim falar sobre como as coisas mudam. Será que todo mundo sente assim? Como a vida muda e de uma hora pra outra você sai do filme 1 e vai pro filme 2. Ou sai de um ato pra ir pra outro. Comecei em uma peça de teatro chamada "2002 foi bom pra você?". Nem lembro o que aconteceu em 2002. Deve ter sido. Mesmo se não tivesse, a lembrança que eu tenho de uma passagem não é real. Ou é. Mas não posso dizer que um ano foi bom com base na lembrança de um fato. E eu tenho uma lembrança incrível de uma madrugada muito fria com amigos e um violão. Faz tanto tempo. Se eu julgasse apenas por essa lembrança eu podia jurar que foi um ano bom. Não é novidade que eu preciso de sol. Nem é novidade que eu odeio o frio. Mas as melhores lembranças são de madrugadas frias.
Mas o quão importante as pessoas foram? Mais do que as lembranças que ficaram? As coisas mudam realmente. É tão difícil deixá-las partir. É mais difícil saber se elas querem mesmo ser abandonadas ou se elas só fazem questão de não serem esquecidas. Porque se for isso, ninguém corre perigo. Eu não esqueço. Nem frio, nem fumaça, nem cheiro, nem olhar, nem céu. Até me dou ao luxo de continuar sonhando que um dia nos encontramos novamente, pois como diz a pequena, a vida é como o mar.
Eu te amo.

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