Não é comum eu vir aqui essas horas. De dia eu quase não
lembro que estou doente, exceto em dia de exame. Os médicos deveriam treinar a
cara de espanto, é muito pesado e é constrangedor você se sentir tranquilo. Perdi
as contas de quantos exames de sangue fiz esse ano, não estou nem um pouco
assustada. Só vim mesmo escrever sobre desapego. Eu sempre me culpo por cativar
as pessoas, talvez eu tenha dois motivos pra isso. Um é o Pequeno Príncipe que
me disse ainda criança: Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que
cativas. O segundo é uma música que aprendi na escola que diz assim: Cativar é
amar, é também carregar um pouquinho da dor que alguém tem pra levar.
E eu carrego. É ótimo saber que as pessoas também sentem dor
na verdade. Mas desde que alguém olhou pra mim e disse: você me cativou, por
favor, não morra! Eu sinto que é minha culpa. Sociopata. Porque eu posso carregar a dor dos outros, mas sempre acho que ninguém merece carregar a minha.
É como uma traição, por mais que eu ache que esteja errada não consigo deixar
de querer teu abraço, teu olhar, tua presença. Por isso eu posso lidar com o
frio quente da distância, mas não posso chegar perto demais e correr o risco de
alguém chegar a sentir e se machucar.
Cada dia que passa a dor aumenta. Mas um dia eu terei
filhos. Um dia eu terei motivos e terei a cura. Se eu tiver que cortar meus
cabelos e outras coisas ainda assim eu serei completa. Eu serei menos possessiva,
menos ciumenta e me preocuparei mais com meu futuro. Com a minha vida, que por
sinal não vai ser mais longa por causa de um passeio de bici num domingo de
sol. Nem com essas seis gotinhas por dia, eu acho. Tem dias que eu simplesmente
não quero ir, não quero nem levantar. E tem dias que é tudo o que eu mais
quero, mesmo. Mas e se eu me der ao luxo de não me importar e acontecer algo
não tão inesperado? Alguns se acabarão porque eu sei, sou importante pra
alguém. E outros que não sabem nada sobre mim vão se perguntar por que eu
valeria a pena.
Acho que não consigo ser mais clara que isso. Quem é você, Alasca?
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