AdriCaramelo

Sob o visco de Apiúna

Foi uma mudança muito drástrica. O calor intenso que eu amava virou inferno, e quando eu achei que o frio pudesse se tornar o céu eu conheci Apiúna. Eu ainda não sei que árvore era aquela, se era um visco por estar perto do Natal, ou se era uma árvore maior com flores amarelas que enxeram meus cabelos de folhas secas, mas quando eu acordei eu sacodi a minha cabeça para afástá-las e de repente eu estava feliz. Não é exatamente o céu, mas é bem melhor do que estar sozinha.

Coisas da Vida




Não é comum eu vir aqui essas horas. De dia eu quase não lembro que estou doente, exceto em dia de exame. Os médicos deveriam treinar a cara de espanto, é muito pesado e é constrangedor você se sentir tranquilo. Perdi as contas de quantos exames de sangue fiz esse ano, não estou nem um pouco assustada. Só vim mesmo escrever sobre desapego. Eu sempre me culpo por cativar as pessoas, talvez eu tenha dois motivos pra isso. Um é o Pequeno Príncipe que me disse ainda criança: Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. O segundo é uma música que aprendi na escola que diz assim: Cativar é amar, é também carregar um pouquinho da dor que alguém tem pra levar.
E eu carrego. É ótimo saber que as pessoas também sentem dor na verdade. Mas desde que alguém olhou pra mim e disse: você me cativou, por favor, não morra! Eu sinto que é minha culpa. Sociopata. Porque eu posso carregar a dor dos outros, mas sempre acho que ninguém merece carregar a minha. É como uma traição, por mais que eu ache que esteja errada não consigo deixar de querer teu abraço, teu olhar, tua presença. Por isso eu posso lidar com o frio quente da distância, mas não posso chegar perto demais e correr o risco de alguém chegar a sentir e se machucar.
Cada dia que passa a dor aumenta. Mas um dia eu terei filhos. Um dia eu terei motivos e terei a cura. Se eu tiver que cortar meus cabelos e outras coisas ainda assim eu serei completa. Eu serei menos possessiva, menos ciumenta e me preocuparei mais com meu futuro. Com a minha vida, que por sinal não vai ser mais longa por causa de um passeio de bici num domingo de sol. Nem com essas seis gotinhas por dia, eu acho. Tem dias que eu simplesmente não quero ir, não quero nem levantar. E tem dias que é tudo o que eu mais quero, mesmo. Mas e se eu me der ao luxo de não me importar e acontecer algo não tão inesperado? Alguns se acabarão porque eu sei, sou importante pra alguém. E outros que não sabem nada sobre mim vão se perguntar por que eu valeria a pena.
Acho que não consigo ser mais clara que isso. Quem é você, Alasca? 

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