AdriCaramelo

Sob o visco de Apiúna

Foi uma mudança muito drástrica. O calor intenso que eu amava virou inferno, e quando eu achei que o frio pudesse se tornar o céu eu conheci Apiúna. Eu ainda não sei que árvore era aquela, se era um visco por estar perto do Natal, ou se era uma árvore maior com flores amarelas que enxeram meus cabelos de folhas secas, mas quando eu acordei eu sacodi a minha cabeça para afástá-las e de repente eu estava feliz. Não é exatamente o céu, mas é bem melhor do que estar sozinha.

Há motivos para eu escrever. Todos tem seus motivos. Parece que foi ontem que eu estava sentindo vontade de escrever uma música sobre isso. Peguei o violão e de repente aquilo me invadiu, uma sensação mal sucedida de alguma coisa que não aconteceu e poderia ter acontecido se não fosse o “mal tempo”. Não quis alimentar as improbabilidades e resolvi tocar uma música qualquer, mas todas falavam sobre isso.
Então eu parei e tentei não dizer nada, porque tudo poderia ser usado contra mim, desde filmes, mortes, peixes e luas até coisas mais pessoais e menos concretas. Mas meu terapeuta disse que eu tenho que aliviar o peso dos meus amigos imaginários, eles são tão dedicados que mal tem tempo para olhar para seus companheiros.

Todos nós parecemos com alguém, se deu certo com eles, poderia dar com a gente. E se antes eu perdia tempo olhando para o canto dos olhos, agora eu ganhei tempo olhando nas profundezas de luzes que eu não tinha reparado. Muito tempo. Não consigo mais disfarçar. Meu riso é como se eu tivesse uma camiseta escrita, parece uma grande bobagem mas é o que eu sinto. Nada fica preso em mim. Nunca tive medo, nunca deixei de dizer, mas é muito mais difícil quando não se sabe o motivo. Motivo de um choro engasgado se nem triste eu estou. Tenho sorte de não precisar ser direta, não preciso explicar e ao mesmo tempo não há como entender.

Talvez eu possa continuar nessa por um tempo. Deitar e sonhar acordada, imaginar minha alma saindo do corpo e sentir na pele.

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